Passado quase 1 ano desde que os 30STM anunciaram que vinham a Portugal, o dia tinha chegado. Chegou e um sentimento misto de frustração e excitação tomou conta de mim. Não sabia o que fazer. Ainda não tinha comprado o bilhete e estive até à última hora à espera que um milagre ou coisa do género acontecesse. Porque sim: queria ver a merda do concerto de perto. Porque tinha esse direito, porque gostava deles. E só porque sim – era esse o meu desejo.
Esperei, chateei quem tinha de chatear, as horas foram passando e nada. A frase “vou ou não vou?” invadiu a minha cabeça durante horas a fio. Mas a hora estava-se a aproximar e tinha de decidir. Tinha tudo contra mim: não podia ir para o sítio que queria, não tinha companhia, nada. Só tinha algo na frequência correta: estava viva e tinha uma vontade. E assim foi, quis e fui viver. As portas abriam às 18h30 e o meu bilhete foi comprado exatamente às 17:58, online. Não se riam, mas a verdade é que acabei por chegar atrasada. Isto é, a banda de abertura iniciava às 20h e eu cheguei perto das 20h15/20h20.
Cadeira carregada: check. Ventilador em ordem: check. Telemóvel com bateria: também check. Todas as precauções foram tomadas antes de me despedir dos meus pais para ir para aquele que seria o meu primeiro concerto sozinha. Deixei os meus 94% de incapacidade de parte por 2 horas e lá fui eu, com um sentimento de falsa e breve independência.
A primeira hora foi puro sofrimento. A banda de abertura não era má, pelo contrário. Mas, eu, naquela fase do mês complicada de uma rapariga, naturalmente depressiva, sozinha num concerto para o qual tinha lutado durante um ano para ter um lugar que não consegui ter, estava complicado… Sentia que tinha perdido uma batalha, mais uma. Uma lagrimita ou outra e foi o tempo da banda de abertura terminar e os 30STM subirem ao palco. De repente a minha frustração e angústia começava a desvanecer-se e a sensação de liberdade e adrenalina invadia-me a alma. O concerto foi repleto de clássicos e músicas novas, preenchendo cada vazio do meu coração. A nostalgia de uma rebelde adolescência e da minha fase emo-punk-indignada-revoltada-com-tudo percorria toda a minha pessoa. Num segundo estava eu, transformada numa outra pessoa qualquer (ou seria apenas, eu própria?), a cantar com todo o meu fraco folgo e a gesticular como se tivesse toda a força e gana do mundo. Cantei, dancei como nunca e gritei. Estava sozinha, a ser aquilo que sentia e queria, ao som de uma das bandas da minha vida. Comecei a aprender a saborear que a solidão não é necessariamente sinónimo de aborrecimento, tédio e tristeza. Solidão pode muito bem se equivaler a liberdade e autenticidade. Não tinha de me comportar como a sociedade se tinha habituado a ver-me, não tinha de provar nada a ninguém. Não tinha de ter “cuidado”, “maneiras”, “regras”. Era só eu e a música.
Realço os melhores momentos, para mim, daquela que foi das melhores noites da minha vida: o início. Dizem que o primeiro impacto diz muito sobre alguém ou um momento e realmente foi o que aconteceu. Começaram logo a cantar um clássico, com a King and Queens. O palco todo iluminado com tons laranjas, a plateia ao rubro, as colunas a rasgarem a atmosfera com decibéis estrondosos. De alguma maneira, encaixava-se na perfeição no meu imaginário, naquilo com que tinha sonhado e fantasiado. Depois, a This Is War. Uma das minhas músicas favoritas deles. Tão forte, tão intensa, tão real. Uma das melhores cenas dos concertos dos Mars é que 90% das músicas deles têm crowd singing e ver uma multidão inteira a acompanhar uma banda a cantar é das melhores sensações do mundo, mesmo. Senti-me tão viva, tão presente. De seguida, o momento alto da minha noite: ouvir, em versão original, a canção The Kill. Não imaginam o quanto eu gritei e esperneei. Estava possuída. Quase 10 anos depois finalmente ouvira uma das músicas que mais marcou a minha adolescência. Lembro-me, como se fosse hoje, de, com cerca de 12, 13, 14 anos, enfiar-me na casa de banho da minha escola e chorar a fazer playback em frente ao espelho (só para mim) por horas a fio de músicas como a Ignorance dos Paramore, Creep dos Radiohead, Given Up dos Linkin Park e claro está, a The Kill dos 30 Seconds To Mars. Sublinho umas passagens da canção, que me marcaram muito e ainda o fazem atualmente:
“What if i wanted to break?
Laugh it all off in your face
What would you do?
What if i fell to the floor?
Couldn’t take this anymore
What would you do, do, do?
(…)
Come break me down
Bury me, bury me
I am finished with you
Look in my eyes
You’re killing me, killing me
(…)
I tried to be someone else
But nothing seemed to change, I know now
This is who I really am inside
Finally found myself
Fighting for a chance, I know now
This is who I really am”
Foi, portanto, um reviver de uma fase determinante da minha vida. E, o facto de não ter tido ninguém para partilhar esse momento, confirmou ainda mais que há coisas que são para ser sentidas sozinhas e apreciadas individualmente. E, estava tão feliz por, de alguma forma, ter conseguido exteriorizar toda uma frustração e angústia antiga cá para fora. Foi quase como que um fecho de um ciclo e o início de outro. Estava orgulhosa de mim mesma. Obviamente que o concerto foi repleto de momentos únicos e marcantes. Desde dezenas de balões gigantes coloridos espalhados pela multidão da plateia, um desenho de luz fantástico, uma presença de palco extraordinária do Jared Leto (bem como todas as interações com o público), o momento em que do nada aparece o Diogo Piçarra para acabar de cantar a Rescue Me. Foi também filmado e encenado um excerto de uma música para um videoclip deles… E claro, a última música para acabar em grande, com o Closer To The Edge, que pôs toda a gente ao rubro e a saltar (literalmente). Dezenas de fãs no palco, confettis por todo o lado. Suor, lágrimas, dentes sorridentes. No final, senti-me outra pessoa. Senti-me mais eu. Tinha feito algo que eu queria mesmo, sozinha. Senti-me independente e que naquele momento tinha o mundo todo nas minhas mãos e podia fazer o que quisesse, completamente. Podia conquistar tudo o que quisesse depois daquelas 2 horas de extrema adrenalina e euforia. Só me deu ainda mais confirmação e confiança para o que eu quero que se siga na minha vida: ir a mais concertos, sozinha ou acompanhada (I don’t fucking care) e trabalhar na indústria musical. Porque, meu deus, a música é a minha vida e a minha vida é a música.