Eu não me suporto, tu não me suportas, ele não me suporta. Nós não nos suportamos, vós não me suportais, eles não me suportam. Nada me suporta, porra. E eu, nada suporto. Não suporto os meus ossos, os meus órgãos, o meu cérebro. Não suporto o meu corpo, o meu ser. Nem tão pouco os meus pensamentos, sentimentos e emoções. Sou flácida, fraca, frágil. Tenho medo, preguiça e raiva. E ódio, muito. Odeio muito. Eu, muito odeio. Odeio que me digam que não há solução, que não há alternativa ou esperança. Odeio o pessimismo e o realismo desumano. Não suporto que me mandem calar. Como aquele… aquele que hoje me disse que não valia a pena. Aquele que afirmou que eu tinha uma doença degenerativa. Aquele que achou que não fazia sentido eu fazer mais fisioterapia. Que não se justificava, que nunca me iria curar ou ser útil.
Um crescimento precoce, uma cirurgia, um adeus à marcha, um olá à reabilitação. Esse aí, o Serviço Nacional de Saúde, mais se parece com uma chupeta. Daquelas amargas que se dá ao povo para ele parar de chorar e ofuscar a sua visão. Contudo, não são precisas lágrimas para se chorar ou sofrer. Os profissionais de saúde, muitos deles, sabem cozer, mas não conhecem o paladar. Sabem fazer, mas não sabem ser. Sabem ler, mas não sabem escrever. Sabem conhecimento, mas não sabem as pessoas. Não sabem falar, abraçar, cativar. Muitas vezes, são máquinas revestidas de pele humana. Carecem do saber de cativar.
Eu cá tento ser suportável. Estudo, sou mestranda, trabalho, trabalho e trabalho. Tento preparar a minha auto sustentação, para parar de chuchar na chupeta amarga do estado. Ele não me suporta, mas eu, com certeza também não o estimo. Dou tudo de mim, os meus pais dão tudo de si, para que eu consiga conciliar a minha vida com a vida da deficiência e do estado. Uma estudante louca, uma mãe atriz, diretora e produtora, um pai músico-compositor-engenheiro de som-empreendedor. E um estado que nada me quer. Um estado que me apaga com borrachas de sertralina, pregabalina e triticum.
Eu?