Temos a tamanha mania de nos compararmos com os outros. Sempre que algo está menos bem, há sempre algo ou alguém que nos diz «podias estar pior». Às vezes dou por mim a pensar que os deficientes, pobres, entre outros grupos minoritários ditados pela sociedade de “inferiores” só estão cá para isso mesmo: relativizar as coisas. Pomos sempre tudo em perspetiva e na mesma balança. Queremos comparar coisas incomparáveis.
     Se eu sentir dor neste momento e quiser disfarçar a sensação: relativizo. Pelo menos todos o fazemos e foi assim que me ensinaram a trabalhar as minhas emoções. Põe-se um paninho cor-de-rosa frio por cima e a coisa ameniza-se. Disfarçamo-nos. É como se fosse um placebo ainda mais platónico. Mas… e se eu me quiser sentir na totalidade? Será egoísmo meu querer valorizar as minhas sensações, mesmo que quando as pondo em perspetiva com outras realidades possam parecer disparatadas? Não preciso que me digam que já estive melhor, que há quem não tenha a mesma sorte que eu, que existem pessoas em situações muito mais delicadas. Ou, pelo menos, não quero. Acho que. Os corações partidos doem na mesma, sejam em que realidade for. As desilusões magoam os ricos, pobres, eficientes e deficientes. Morrer por amor não tem perspetivas ou relativizações. Sente-se, fere-se, morre-se e ponto. Há coisas que nos toca a todos.

     Ninguém em estado de pânico relativiza o que está à sua volta. Penso mesmo até que não há coisa pior do que sentimentos mal sentidos.Há que chorar, berrar, sentir, espernear. A melhor maneira de combatermos emoções tristes e feias é mesmo através do abraço e compreensão das mesmas. O carinho cura qualquer ferida. Não é a pensar nos outros, não. A transformação cabe-nos a nós. Como uma reação química… Tudo se transforma. Há que aprender a cuidar dos nossos sentidos e sensações.

     O exterior também é importante, claro. Acredito inclusive que é o nosso mundo envolvente que nos despoleta certos maus estares e insónias. Somos seres sociais. Não são só as crianças que são esponjas e absorvem tudo. Ou, serei eu ainda uma criança? Talvez. Talvez ainda não tenha os filtros que necessito. Talvez sinta demasiado, talvez pense em demasia. Talvez…
Talvez só precise de um carinho. Uma conversa interessante, uma companhia incessante.


No entanto… há quem esteja pior. 
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Raquel Banha

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