A psicologia e a mente humana são áreas que cada vez mais me despertam o interesse e com que me identifico bastante, a par com filosofia e sociologia. Digamos que é como se fosse a minha religião. Há quem recorra a crenças espirituais e religiosas para dar respostas às suas inquietações e ao seu pânico existencial, eu encontrei na ciência e conhecimento a aproximação ao saber que tanto anseio.
Todos estes temas de certa forma foram criados para o Homem se conseguir estudar a si próprio. Curiosamente, somos o único animal (que se tenha conhecimento) capaz desta autoanálise.
Muito honestamente, se a civilização tivesse acesso no ensino obrigatório a uma abordagem mais consciente e consistente destes temas, quem sabe não se educaria pessoas para que fossem mais cientes do que é ser-se ser humano e todas as implicações que tal “papel” acarreta.
Em pleno século XXI as doenças do foro psicológico continuam ainda a ser estupidamente desvalorizadas e incompreendidas pelo senso comum. É verdade que o cérebro humano é o órgão mais complexo do nosso corpo e com infinitos mistérios ainda por decifrar, no entanto, tal não deve justificar a nossa total alienação e desprezo para com ele, para com o desconhecido.
Pergunto-me… Será que os técnicos de Primeiros Socorros sabem agir e acudir alguém que esteja a ter um grave ataque de pânico ou em estado de choque?
Este ano foi lançada uma série televisiva da NetFlix (13 Reasons Why) que toca precisamente em temas delicados como a depressão na adolescência e o suicídio. E o mais importante, o porquê de tudo isto. Ao longo dos episódios são mostradas as razões (13) que levaram a protagonista a suicidar-se.
Embora que a fragilidade emocional de uma pessoa faça sempre parte da personalidade da mesma, ou seja, é algo intrínseco a ela, acredito piamente que muitas das vezes são mesmo os fatores externos e ambientais que se comportam como “triggers” para o indivíduo. E é precisamente nesses fatores exteriores que a série se foca. Desde o bullying, assédio sexual e violações, à cultura machista e do julgamento…
Com isto quero dizer que, talvez aquela pessoa estranha intrometida considerada por muitos “louca” não precise nada mais do que um olá sincero, um bom dia alegre.
Se é legitimo visitar-se alguém que acabou de ser operado ao coração, deve ser também legítimo ir-se sem quaisquer medos ou vergonhas à ala do internamento psiquiátrico e ler as notícias do dia ao nosso ente querido. Ao fim ao cabo, são tudo doenças. Doenças humanas, nada de outro mundo ou planeta.
Alguém debilitado psicologicamente precisa tanto ou mais de uma visita amiga e honesta tal como qualquer outro doente “físico”. Mas… na verdade o que é isso de doenças “físicas”? Não são os neurónios e hormonas algo também… físico? A sociedade põe-me confusa.
Talvez se o Chester Bennington não vivesse num mundo onde a ofensa, julgamento e opinião barata é rainha e dona de todo o tipo de comunicação, ainda estaria vivo e a tentar ser um bom pai e exemplo para os seus 6 filhos.
Vivemos numa época assustadoramente violenta, sem quaisquer escrúpulos ou moral. Receber tweets ofensivos, mensagens ameaçadoras e comentários cruéis é o dia a dia de um ser humano que tem o “feliz” azar de ser famoso e estar nas mãos da opinião pública. Pergunto-me… Iremos então aceitar esta situação porque a pessoa é de “domínio público”? E tem de se “sujeitar”, porque está a “jeito”? Ou porque “faz parte da profissão” e há que “aceitar”? É, portanto, aceitável que existam comentários constantes como “i hate this fucking song, go kill yourself”?
Não sei rezar, mas quero rezar para um mundo onde a ofensa constante não exista, onde exista mais consciência do que é ser Humano, onde seja possível viver-se sem que nenhum caramelo esteja sempre do outro lado a martirizar-nos, sem nenhuma razão, só porque “sim”, porque é “fácil”. Porque o Homem é mau. A raça humana é fodida, foda-se.
No estado evolutivo em que a nossa espécie se encontra já não tenho qualquer esperança de um mundo em paz. Já pensaram o quão ridículo os nossos descendentes irão achar desta estúpida e vil era? Não cabe na cabeça de ninguém humanos matarem outros humanos. Tal como agora não nos cabe na cabeça o canibalismo. Tão diferente e tão igual… Hipocrisia e estupidez.
A psicologia só será verdadeiramente aceite, valorizada e percebida no dia em que a compaixão, inteligência, tolerância e bondade se sobrepuserem à crueldade, instintos selvagens e maldade.
Até lá, aos poucos que conseguirem resistir à aliciante vida de acéfalo preguiçoso, tentem fazer desta civilização uma comunidade um pouco melhor a cada dia que passa.
Não se esqueçam que quando passarem por alguém e tiverem a oportunidade de segurar a porta a essa pessoa e dizer um “tenha um dia sorridente”, poderão estar a ser o “trigger” positivo que essa pessoa tanto estava a precisar, para o recomeço de um dia melhor, que até ali poderia estar a ser um inferno.
Farás falta cá, Chester. Até sempre. ★
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